A jornalista Eliane Cantanhêde, 73 anos, está fora da GloboNews após 15 anos como comentarista do programa Em Pauta, atualmente apresentado por Marcelo Cosme. A saída, anunciada nesta sexta-feira (1º), foi oficialmente tratada como uma decisão conjunta entre a jornalista e a emissora. No entanto, fontes de bastidores revelam que a comentarista foi demitida por conta de sucessivas polêmicas — a mais recente envolvendo declarações sobre a guerra entre Irã e Israel, em junho deste ano.
Na versão oficial, a saída foi atribuída a um desejo pessoal de Cantanhêde de reduzir sua carga de trabalho. Em entrevista ao F5, ela relatou estar cansada da rotina intensa e dos ataques que vinha sofrendo nas redes sociais. “Trabalhar das 8h até 22h, apanhar de todo lado na internet… Cansei. Tinha que abrir mão de um dos quatro empregos e abri”, disse a jornalista, que revelou ter retomado o acompanhamento com uma psicóloga antes de tomar a decisão.
“Tem hora pra tudo. É difícil decidir parar, mas eu vinha amadurecendo a ideia há alguns anos”, afirmou. “Aceitei o convite da GloboNews numa idade em que muitos colegas estavam se aposentando, mas o projeto do Em Pauta me encantou. Foi uma experiência incrível, com jornalistas maravilhosos e amigos para a vida toda.”
Outra versão
No entanto, de acordo com o site TV Pop, a decisão da Globo teria sido motivada por episódios controversos protagonizados por Cantanhêde, que geraram desconforto interno e desgaste público. A gota d’água teria ocorrido em 20 de junho, quando, durante uma edição do Em Pauta, ela questionou a suposta ineficiência dos mísseis iranianos em causar mortes em Israel, comparando-os aos ataques israelenses contra Gaza. A fala gerou forte repercussão negativa e obrigou a GloboNews a emitir um pedido público de desculpas.
“Por que os mísseis de Israel destroem Gaza, matam milhares, e os mísseis do Irã, que caem efetivamente em Israel, não matam ninguém?”, questionou ela ao vivo. “Tem uma mortezinha daqui, outra dali… 23 feridos daqui, 40 dali. Eu não consigo entender por que nessa guerra o Irã atinge o alvo e não mata ninguém.”
A declaração foi considerada insensível e provocou críticas nas redes sociais e na imprensa. Segundo apurações, desde então, a situação da comentarista era vista como insustentável dentro da emissora. Ainda assim, a Globo optou por apresentar a saída como uma escolha mútua em respeito à longa trajetória de Eliane no canal.
Nos bastidores, a jornalista também já havia sido alvo de críticas por outros episódios. Em 2022, virou piada ao elogiar o então presidente Jair Bolsonaro por supostamente falar bem inglês durante a Cúpula das Américas — na verdade, o presidente falava em português, e a jornalista confundiu a fala com a tradução simultânea. Em outra ocasião, foi acusada de fazer um comentário de cunho machista contra a primeira-dama Janja da Silva, o que lhe rendeu críticas públicas até da ex-presidente Dilma Rousseff.
No seu último dia de trabalho, em 31 de julho, Eliane chegou a ser mencionada no ar por Marcelo Cosme de forma descontraída, sem saber que aquele seria seu adeus ao canal. “Hoje não tem a Lili, mas me garantiram que em outro dia ela vai estar. Vou até levar ela na mala pro Rio”, brincou o apresentador. A jornalista riu no estúdio de Brasília, ainda sem ter sido comunicada formalmente sobre seu desligamento.
Depois da notícia vir à tona, ela agradeceu o público em seu perfil no X (antigo Twitter): “Depois de 15 anos felizes e de muita energia na GloboNews, ao lado de tanta gente querida e competente, é hora de parar e reservar as noites para meus livros, séries e um bom vinhozinho. Obrigada a todos, particularmente a você, assinante. Foi ótimo enquanto durou.”
A saída de Eliane ocorre em meio a uma ampla reformulação na GloboNews, que se prepara para celebrar 30 anos no ar em 2026. Entre as mudanças previstas, estão um novo estúdio e espaços renovados para os jornalistas, no antigo “Estúdio A” da Globo no Rio de Janeiro — o mesmo que já sediou novelas e o Jornal Nacional.
Apesar da forma discreta com que a emissora comunicou a decisão, nos corredores da Globo a demissão de Cantanhêde é interpretada como parte de uma estratégia para evitar novos desgastes e reposicionar a imagem do canal diante do público.
Carreira
Formada pela Universidade de Brasília (UnB), Eliane construiu sólida carreira no jornalismo político, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, onde foi colunista e repórter por anos. Em 2010, foi convidada a integrar a GloboNews como comentarista fixa no Em Pauta, projeto que então estava em fase inicial. Desde então, marcou presença no noticiário político do canal nas noites de terças, quartas e sextas.