O cantor e compositor Lindomar Castilho morreu aos 85 anos, neste sábado, dia 20 de dezembro. A informação foi confirmada pela filha, Lili de Grammont, por meio das redes sociais. A causa da morte não foi divulgada pela família. Nos últimos anos, o artista vivia de forma reclusa em um apartamento em Goiânia, com a saúde fragilizada havia cerca de dez anos após o diagnóstico de Parkinson.
Conhecido nacionalmente como o Rei do Bolero, Lindomar Castilho construiu uma carreira de grande sucesso nas décadas de 1970 e 1980. Dono de hits populares como Você É Doida Demais, Tapas e Beijos e Eu Amo a Sua Mãe, ele se consolidou como um dos maiores vendedores de discos do Brasil naquele período. A música Você É Doida Demais ganhou novo alcance ao ser utilizada como tema de abertura da série Os Normais, exibida pela TV Globo entre 2001 e 2003.
Apesar da trajetória de sucesso na música, a carreira do artista ficou marcada por um crime de grande repercussão nacional. Em 30 de março de 1981, Lindomar Castilho assassinou a ex-esposa, a cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros. Ela tinha 26 anos e se apresentava na boate Belle Époque, na zona sul de São Paulo, acompanhada do violonista Carlos Randall. Os dois já estavam divorciados na época. A filha do casal, Lili, tinha menos de dois anos.

O crime chocou o país e se tornou um marco na discussão sobre violência doméstica. Lindomar foi preso em flagrante, julgado em 1984 e condenado a 12 anos e dois meses de prisão, conforme registros do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele cumpriu parte da pena, inicialmente na capital paulista, e depois foi transferido para um presídio em Goiás, onde permaneceu em regime semiaberto. O cantor deixou a prisão na década de 1990.
Durante o período em que esteve detido, Lindomar Castilho manteve vínculo com a música. Em 1985, lançou o álbum Muralhas da Solidão, composto majoritariamente por canções autorais, e passou cerca de sete anos ministrando aulas de música e violão para outros detentos. Após cumprir parte da pena, tentou retomar a carreira artística e lançou um álbum ao vivo em 2000, mas voltou a se afastar da vida pública e dos palcos com o passar dos anos.
A morte do cantor reacendeu a memória do crime por meio de um longo desabafo publicado por Lili de Grammont. Na mensagem, ela refletiu sobre finitude, humanidade e as marcas deixadas pela violência na história da família.
“Meu pai partiu. E como qualquer ser humano, ele é finito. Foi alguém que se desviou pela vaidade e pelo narcisismo. Ao tirar a vida da minha mãe, também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira”, escreveu.
Em outro trecho, Lili relembrou as perdas precoces e o impacto do crime em sua infância. “Perdi minha mãe quando eu tinha dois anos, minha avó, que me criou, quando eu tinha quinze. Meu pai foi preso quando eu tinha seis. Para a gente, não morre só a mãe. Morre o pai, a relação de família e o amor se torna desconfiança”, afirmou.
Ela também fez uma reflexão sobre vulnerabilidade e transformação pessoal. “Nem melhores e nem piores do que o outro. Não somos donos de nada e nem de ninguém. Somos seres inacabados, que precisamos olhar para dentro e buscar nosso melhor, estar perto de pessoas que nos ajudem a trazer a beleza para fora e aceitar nossa vulnerabilidade”, publicou.
Ao abordar o tema do perdão, Lili destacou a complexidade do processo emocional. “Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou um não. Ela envolve todas as camadas das dores e das delícias de existir, de ser um ser complexo e em constante transformação”, completou.
Lindomar Castilho foi velado neste sábado, a partir das 13h, no Cemitério Santana, em Goiânia. A morte do cantor que matou a ex-mulher, dono do hit Você é Doida Demais, encerra a trajetória de um dos nomes mais conhecidos da música brega brasileira, marcada por enorme sucesso popular e por um crime que atravessou décadas na memória do país.