Morreu na noite de domingo (2/11), em Belo Horizonte, o cantor, compositor e instrumentista Lô Borges, um dos nomes mais inventivos e influentes da Música Popular Brasileira (MPB). A morte, confirmada nesta segunda-feira (3/11) pela família e pelo Hospital Unimed de Contorno, ocorreu às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos. O artista, de 73 anos, estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro, após sofrer uma intoxicação medicamentosa. No dia 25, ele passou por uma traqueostomia e vinha respirando com auxílio de aparelhos.
Origem e formação musical
Nascido Salomão Borges Filho em 10 de janeiro de 1952, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, Lô Borges era o sexto de onze irmãos de uma família com fortes vínculos musicais. Ainda criança, mudou-se temporariamente para o centro da capital mineira, onde conheceu Milton Nascimento, então com 20 anos. Esse encontro marcou o início de uma amizade e parceria que mudaria a história da música brasileira. Pouco depois, Lô conheceu Beto Guedes, outro futuro integrante do grupo que formaria o Clube da Esquina, movimento que uniu influências da música mineira, do rock, do samba e da psicodelia.
De volta a Santa Tereza, as rodas de violão nas esquinas das ruas Divinópolis e Paraisópolis deram nome ao movimento e inspiraram canções que se tornariam clássicos da MPB. O álbum “Clube da Esquina”, lançado em 1972 por Lô Borges e Milton Nascimento, é considerado um marco da música brasileira. Mais de 50 anos depois, o disco foi eleito o maior álbum brasileiro de todos os tempos e o nono melhor do mundo pela revista norte-americana Paste Magazine.
Carreira e legado
No mesmo ano do lançamento de “Clube da Esquina”, Lô Borges gravou seu primeiro álbum solo, o emblemático “Lô Borges”, conhecido como Disco do Tênis, por causa da capa que mostra um par de tênis abandonado no chão. O disco, composto em poucas semanas, revelou sucessos como “Paisagem da Janela”, “O Trem Azul” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, músicas que se tornaram atemporais e atravessaram gerações.
Após o sucesso inicial, Lô afastou-se dos palcos e viveu um período em Arembepe, na Bahia, sem deixar de compor. Retornou em 1978 com o álbum “A Via Láctea”, considerado por ele um dos melhores de sua carreira. Em 1984, realizou sua primeira turnê nacional com o disco Sonho Real. Nos anos seguintes, manteve uma produção mais discreta, mas consolidou sua influência como um dos compositores mais originais da MPB, com obras que exploravam harmonias complexas e uma fusão de estilos entre o samba, a bossa nova, o rock e o jazz.
Na década de 1990, a parceria com Samuel Rosa e Nando Reis resultou no sucesso “Dois Rios”, gravado pelo Skank, reaproximando Lô do grande público e de novas gerações. A partir de 2019, o músico retomou uma intensa fase criativa, lançando sete álbuns de canções inéditas em apenas sete anos: Rio da Lua (2019), Dínamo (2020), Muito Além do Fim (2021), Chama Viva (2022), Não Me Espere na Estação (2023), Tobogã (2024) e Céu de Giz (2025), este último em parceria com Zeca Baleiro.
Homenagens e reconhecimento
A morte de Lô Borges causou comoção entre artistas e fãs. Milton Nascimento prestou homenagem nas redes sociais, destacando a amizade e cumplicidade de décadas que resultaram em uma das obras mais importantes da música mundial. “O Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”, escreveu.
Em 2023, o cineasta Rodrigo de Oliveira lançou o documentário “Lô Borges: Toda Essa Água”, retratando a trajetória do músico e sua contribuição para a arte brasileira. Conhecido por ser reservado em relação à vida pessoal, Lô deixava que sua obra falasse por si — uma música singular, capaz de unir tradição e experimentação com naturalidade.
Confira mais notícias sobre Lô Borges e outros famosos nas redes sociais do jornalista Daniel Neblina.